Por André Prado Nunes
Existem treze motivos? Ainda existe ao menos um bom motivo?
Vivemos cada vez mais cercados de prescrições e dicas
sobre “bem viver” e mesmo assim, muitos de nós ainda nos sentimos sem rumo,
como se algo estivesse faltando, fora do lugar.
O primeiro pensamento parece óbvio: o que há de errado comigo? O que
há de errado com o mundo? Pensariam outros.
De
qualquer modo, muitos de nós sentimos esse grande descompasso com a vida. Com o
tempo passamos a conviver com esse abismo entre nós e o mundo, que dói mais ou
menos, dependendo da época e das situações.
Talvez seja possível dizer que há momentos em que
esse abismo nos engole. Os dias passam a se arrastar, um após o outro, todos
iguais. Fica cada vez mais difícil se levantar. O corpo começa a doer nos mais
simples movimentos do dia-a-dia. O pensamento fica disperso, é tarefa de grande
esforço fixar a atenção em algo durante muito tempo: uma crise se instalou.
O que antes era familiar e seguro de repente
revela-se estranho, inóspito, instável.
Viver torna-se um fardo, nada mais faz sentido. A situação de crise revela exatamente
isso: a perda de sentido. E vem acompanhada de grande sofrimento, que pode
aparecer de diversas formas. Alguns se mostram num estado de constante desânimo
e indiferença, outros, tentando reagir à crise, revelam-se cada vez mais tensos
e ansiosos, chegando a ter crises de ansiedade (pânico).
Perder o sentido significa perder a si mesmo, perder
a importância de sonhos e projetos pelos quais se tem batalhado tão arduamente;
morrer em vida. Não é à toa que, muitos
de nós, nessa situação, chegamos a pensar em terminar com a própria vida.
“Cajuína”, bela canção de Caetano Veloso, dispara
logo no primeiro verso: “Existirmos, a que será que se destina?” Dar-se conta da própria existência fatalmente nos
leva a questionar o sentido da mesma. Ou até a ausência de sentido. Isso porque,
embora existir demande por sentido, este pode se perder, nunca é completo e se
modifica ao longo da vida.
A música, de acordo com o próprio autor, se refere a
um antigo amigo que se matou. Diante de tal ato extremo, resta aos que ficaram,
atônitos, a pergunta sobre o sentido da existência.
Os versos que se seguem a pergunta inicial da canção
não entregam uma resposta. Ao invés disso, o autor debruça-se sensível e
contemplativo sobre a “matéria-vida”, desvelando em belas imagens a vida que
ainda pulsa em sua gratuidade. Seria esse já um possível responder?
Também aqui não pretendemos dar uma resposta, mas
antes fazer um convite para o pensar.
Uma situação de crise revela a dolorosa perda de
sentido. Mas a crise também pode se referir a abertura de possibilidades, novas
destinações.
Antes, porém, é preciso reconhecer o descompasso com a vida.
E neste descompasso perceber que muitas fórmulas e manuais nos são dados sobre o bom viver desde a infância, mas
que eles pouco respondem aos desejos, medos e perguntas que nós fazemos sobre
nós mesmos.
Além do mais, vivemos em um mundo
no qual muitos de nós estamos tal qual o mito de Sísifo: condenados a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma
pedra até o topo de uma montanha, sendo que, toda vez que se está quase alcançando
o topo, a pedra rola novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio
de uma força irresistível, invalidando completamente o duro esforço despendido.
É bom saber também que nem sempre
é fácil desbravar esses caminhos sem ter alguém com quem conversar. As nossas
respostas já estão viciadas, e os amigos, embora prestativos, muitas vezes
estão enredados em seus próprios problemas.
O convite para o pensar pode se encerrar da seguinte
forma: e se a gente pudesse se pensar como um enigma?
Veja mais em:
https://www.youtube.com/watch?v=Uk45bqgRhGI
Parabéns pelo texto André! Agora gostaria de ver uma produção sua, onde vc possa nos orientar com algumas dicas para manter o bem estar emocional/mental .
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